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sexta-feira, 18 de março de 2011

Viciados em Doce! Bijal Trivedi investiga.





Instalada no sofá, vendo televisão, sinto aquele desejo noturno. Quanto mais resisto, pior fica. Dali a 20 minutos, não consigo me concentrar; estou ansiosa e inquieta. Por fim, vou até o congelador, atrás do estoque do produto branco, e tomo uma dose. Quase na mesma hora, relaxo, com o cérebro inundado de prazer, enquanto a substância química corre pelas minhas veias. Não é fantástico o que algumas colheradas de sorvete podem fazer?

Para o meu cérebro, o açúcar é primo da cocaína. Há indícios convincentes de que os alimentos ricos em açúcar, gordura e sal – como quase toda junk food – consigam alterar a química do cérebro do mesmo modo que drogas altamente viciantes.

Dependentes de açúcar
Durante doze horas por dia, deram a ratos um xarope de açúcar com concentração semelhante à dos refrigerantes, além de água e ração normal para ratos. Dali a um mês, os ratos apresentavam um comportamento que, segundo os pesquisadores, era quimicamente idêntico ao dos ratos viciados em morfina. Eles se empanturravam de xarope e tinham sintomas de ansiedade quando este era retirado – sinal de síndrome de abstinência. O mais importante foi que os pesquisadores observaram que o cérebro dos ratos liberava o neurotransmissor dopamina sempre que eles se entupiam de xarope, mesmo depois de comê-lo durante semanas.

Isso não é normal. A dopamina estimula a busca do prazer, seja na comida, nas drogas ou no sexo.
Depois desse estudo importante, várias outras experiências confirmaram os achados. Mas foram estudos recentes com seres humanos que fizeram a balança dos indícios pender a favor de rotular como vício o gosto por junk food. Costuma-se descrever o vício como amortecimento do sistema cerebral de recompensas provocado pelo uso excessivo de alguma droga. É o que acontece no cérebro dos indivíduos obesos, diz Gene-Jack Wang, do departamento médico do Laboratório Nacional de Brookhaven do Departamento de Energia dos EUA. Em 2001, ele descobriu no cérebro dos obesos uma deficiência de dopamina quase idêntica à dos viciados em drogas. Stice também demonstrou que certas pessoas têm reação amortecida à dopamina quando comem alimentos apetitosos. Isso as torna mais vulneráveis à obesidade, porque precisam comer mais para obter um nível compensador de liberação de dopamina. Juntos, esses estudos indicam que há duas vias para o vício em comida: uma para quem acha a comida mais compensadora do que a média das pessoas, outra quando não é bastante compensadora.
Kenny explica que o acesso ilimitado a uma droga como a cocaína causa forte impacto no cérebro, e seria de esperar que os efeitos viciantes da comida fossem menos acentuados. Mas “as mudanças ocorreram rapidamente e vimos efeitos impressionantes”.

Agora há quem afirme que a junk food rica em sal, açúcar e gordura dispare mecanismos biológicos tão poderosos e difíceis de combater quanto as drogas mais viciantes. Como controlamos as drogas por causa dos males que podem causar, seria hora de começar a endurecer a regulamentação da fast-food também?

John Banzhaf, advogado que, na década de 1960, ganhou um processo na justiça que obrigou as emissoras americanas de rádio e TV a ceder espaço gratuito para mensagens contra o tabagismo, está voltando a atenção para o setor de fast-food e o seu papel na promoção da epidemia de obesidade. Ele acredita que há pesquisas suficientes para que o Ministério da Saúde publique um relatório sobre o vício em comida, como fez em 1988 sobre o vício em nicotina. Mas admite que será uma luta complicada. “A fast-food não é uma [única] substância química, então não se pode perguntar se um cheeseburger triplo com bacon vicia”, diz ele. Seria necessário haver algo mais específico a respeito da quantidade de açúcar, sal e gordura.

Nos EUA, já há sinais do que vem por aí. As gorduras trans foram recentemente banidas de restaurantes de Nova York e da Califórnia, e, em escolas, os refrigerantes gasosos estão sendo tirados de algumas máquinas de venda, para se antecipar à lei que tornará essa exclusão obrigatória.

Não surpreende que o setor de alimentos e bebidas esteja se preparando para a luta. Esses alimentos só são viciantes para “um determinado subconjunto de consumidores que não exerce a necessária disciplina”, diz Hank Cardello, ex-executivo de empresas alimentícias, como a Coca-Cola.

Ele acredita que a isenção fiscal para empresas que produzam alimentos pobres em quilocalorias seja uma estratégia que não destruiria as que vendem fast-food. É claro que o poder supremo está nas mãos do consumidor.

Atesto que é possível romper o hábito. Depois de duas semanas de abstinência a frio, posso afirmar que consegui perder o hábito do sorvete. Ah, se eu conseguisse perder o vício em televisão...

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